aβsynto Vocέ: 200901

 

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.Há também quem garanta que nem todas, só as de verão.Isto não tem muita importância. O que interessa mesmo são os sonhos..."

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sexta-feira

Esquecer em doses homeopáticas

"Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho."
Mário Quintana

"Remédio, 
Ainda não inventaram o que atenue da saudade a dor.
Se o rasgo no peito sangrar, que cada gota se transmute 
num poema de amor."

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DO AMOROSO ESQUECIMENTO

Eu, agora _ que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Mário Quintana

Lisbon Revisited (l923)


NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
*A primeira vez que li este poema do Pessoa
senti uma dose tão grande de angústia que me
incomodou.Rejeitei-o. Hoje é quase um auto-retrato.

quinta-feira

Subliminar

Semente trazida pelo vento,
brotou do lado da casa,
Frutífera, quem o saberia?
Se não o fosse, a sombra lhe serviria.
Ela avaliou... Deixou ficar.
Acompanhou cada fase distinta,
com um olhar displicente.
O que fora inocente semente,
começava a tomar vida.
Feito um ramo, um arbusto, um arvoredo.
E quando a notou: mostrou-se forte e imponente.
Amou o que viu e deixou-a livre, sem poda.
Árvore se fez, frondosa de raízes poderosas.
Bem rente à casa, já não se discernia
_A casa se escoraria na árvore?
_A árvore na casa se apoiaria?
Ela evitou pensar... Deixou ficar.
Só que mais profundo, no oculto da fundação,
o forçar das raízes revelou a fragilidade,
de toda uma da construção.
Neste instante, num lampejo de lucidez,
tomou-lhe de assalto a razão:
_A árvore ou a casa,
qual delas penderia no chão?
Buscou o machado... Sangrou-lhe o coração,
pendeu ela, solitária e destruída sobre o chão.

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São demais os perigos desta vida


São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.
Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.

quarta-feira

À tua espera

A paixão segue contemplativa, mas a falta é real.
A falta de teus suspiros, do teu cheiro... do abraço.
A ausência tem forma, tem nome, tem vida.
Vida que vibra com teus gemidos sôfregos
quando a língua despe o pudor do seu corpo.
Hoje silêncio predomina no quarto, na cama...
Não penetras meus ouvidos com suas doces obcenidades ...
Não me irrigas de vida, de ti, de gozo...É só vácuo.
Mas quando chegares...
Num abandono em meus braços, seu corpo a estremecer
com carinhos e ousadias inconfessáveis,
partida será passado.
Então, extenuado, recostado em meu regaço,
indefeso como uma criança, abrigado, adormecerá feliz meu homem!

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terça-feira

Atelièr de amadores

Com mãos firmes de artesão
manuseio o tear da existência.
Num nai e vem constante,
vejo crescer um pouco de mim.
A cada ponto, a cada carreira
imprimo minha história.
Severo e crítico é o olhar ,
não há segunda chance nesse ateliêr.
Observo o evoluir da peça,
esboço da obra que ainda há de ser.
A cada passo tropego, me desconstruo.
Desato meus nós, desfaço meus passos.
À cata do elo que se perdeu,
do fio de mim que se soltou,
repenso, repasso, refaço a trama.
Eterno fazer e desfazer.
Busca da obra perfeita.
Tanto tempo gasto em reparar,
num refazer infinito da peça única,
pouco sobra para vislumbrar-lhe a beleza.
Quanta tolice!
Acaso existe obra perfeita em ateliêr de amadores?

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Imersão no cinza

Olho pela janela,
a manhã se veste de cinza.
A paisagem passa veloz,
a vegetação desponta em verde,
roupas coloridas tremulam no varal.
Tudo apresenta-se em cor,
cinza só meu coração e essa manhã.
Se ao menos houvesse o mormaço,
o calor que delata o Sol,
se parcos raios de luz escapassem,
surgindo das densas nuvens...
Não...
Hoje o dia é cinza,
a vida se pôs cinza.
Roubaste minha aquarela.
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segunda-feira

Náufrago da Paixão

“Porque sou do tamanho daquilo que vejo, 
e não do tamanho da minha altura.”
(Carlos Drummond de Andrade) 
Só,
ruminando em secreto minhas mazelas,
busco alforria de ti.
Sinto-me tola, atolada.
Armadilhas, arapucas,
Eu ave presa sob alçapão.
Coração agitado no peito,
refém da própria emoção...
Busco porto seguro,
busco um corpo seguro.
Preciso aportar e sobreviver.
Minhas coordenadas se perderam,
se fundiram com o delírio de te querer.
Vivo naufrago de meu próprio sentir.
Paixão que tirou o chão,
Desejar que dominou a razão.
Cansei de lutar, de querer...De querer lutar!
De amarras solta deixo-me conduzir.
Meu destino: ancorar ou naufragar.[ME]

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Canto da Solidão

Neste alaúde, que a saudade afina,
Apraz-me às vêzes descantar lembranças
De um tempo mais ditoso;

De um tempo em que entre sonhos de ventura
Minha alma repousava adormecida
Nos braços da esperança.

Eu amo essas lembranças, como o cisne
Ama seu lago azul, ou como a pomba
Do bosque as sombras ama.

Eu amo essas lembranças; deixam n'alma
Um quê de vago e triste, que mitiga
Da vida os amargores.

Assim de um belo dia, que esvaiu-se,
Longo tempo nas margens do ocidente
Repousa a luz saudosa.

Eu amo essas lembranças; são grinaldas
Que o prazer desfolhou, murchas relíquias
De esplêndido festim;

Tristes flores sem viço! - mas um resto
Inda conservam do suave aroma
Que outrora enfeitiçou-nos.

Quando o presente corre árido e triste,
E no céu do porvir pairam sinistras
As nuvens da incerteza,

Só no passado doce abrigo achamos
E nos apraz fitar saudosos olhos
Na senda decorrida;

Assim de novo um pouco se respira
Uma aura das venturas já fruídas,
Assim revive ainda

O coração que angústias já murcharam,
Bem como a flor ceifada em vasos d'água
Revive alguns instantes.

Bernardo Guimarães

domingo

Ψolhos Pensantes:"De apavorar até o Marquês de Sade!"

Uma piadinha tragi-cômica para fechar o domingo e começar bem a semana!!!

sexta-feira

A Luxúria mora ao lado


C & H


Quem somos

"Somos idas e vindas,
Somos pausa e pouso.
Às vezes, pássaros desgarrados,
alojados em ninhos alheios.
Somos seres inquietos,
em busca do que nos falta.
Saudosos de um recanto que não tivemos,
do acalanto que ainda não ouvimos,
do amor que ainda não vivemos.
Somos lamentos tristonhos,
um ecoar permanente de dúvidas.
Somos pó."

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quinta-feira

“Em face dos últimos acontecimentos"


Oh! Sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
Que o nosso avô português?
Oh ! sejamos navegantes
Bandeirantes e guerreiros
Sejamos tudo que quiserem
Sobretudo pornográficos.
A tarde pode ser triste
E as mulheres podem doer
Como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).
Teus amigos estão sorrindo
De tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
Fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
Que o melhor é ser pornográfico.
Propõe isso a teu vizinho,
Ao condutor do teu bonde,
A todas as criaturas
Que são inúteis e existem,
Propõe ao homem de óculos
E à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
Não quereis ser pornográficos?
by Drummond
P.S. Antes da crítica sejamos sinceros,
 todos e tudo no mundo só se move
 pelo Tesão, pela Paixão. 
Inclusive: Eu!

Agora é mulher de Forno e Geladeira!

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Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

"Somos idas,vindas e pausas,
mesmo quando queremos pouso.
Pássaros desgarrados,
inquietos seres,
alojadas em ninhos alheios.
Saudosos do recanto que ainda não tivemos,
ou do acalanto que ainda não ouvimos.
Somos lamentos tristonhos,
um ecoar permanente de ais!
Até quando..."

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quarta-feira

Nada como o tempo...


(...)
"Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século 
esse tempo todo não é suficiente para realizarmos 
todos os nossos sonhos, 
para beijarmos todas as bocas que nos atraem, 
para dizer o que tem de ser dito... 
O jeito é: ou nos conformamos 
com a falta de algumas coisas na nossa vida 
ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar 
tampouco compreenderá uma longa explicação."
Mário Quintana

Um poema pra cada suspiro.
Como Mário Quintana suspirava,
vertia emoção por todos os poros.
Um ser genial e pra mim "divinal"!

Meu Quintana ficou só

Inscrição para uma lareira

"A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida..."

by Mário Quintana

"Hoje senti meu Quintana órfão.
Quem o irá receber?
Tão belas, tão vivas palavras,
tão só... Sem coração que as acolha.
Meu Quintana ficou só,
sem quem o recebesse,
palavras ecoando no vazio."

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Árvore da vida


ÁRVORE DA VIDA

Os
amores
platônicos,
ancorados em
poemas... Sobrevivem.
Pelas mãos do poeta, cujas
tramas mágicas são tecidas,
com todas as palavras colhidas,
A seiva do poeta
ameniza
a dor
Sufoca
o grito
Liberta
o riso
Garante
o viço,
a força,
a forma.
Alimenta a vida.
E lhes traz sentido.

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terça-feira

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha



Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos…


Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…


Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri


E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti.

Florbela Espanca
"Se tu vieres, seja em que tempo for,
Irás me encontrar esperando.
Vivemos, Amor, a esperar-te.
Num dobrar da esquina,
num momento qualquer,
brusco, encontrar-te."


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Cicatriz

Quem disse que mudei? Não importa que a tenham demolido. A gente continua morando na velha casa em que nasceu.

   Mário Quintana [pensador] www.pensador.info

 
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