aβsynto Vocέ: 2009

 

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.Há também quem garanta que nem todas, só as de verão.Isto não tem muita importância. O que interessa mesmo são os sonhos..."

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domingo

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

quarta-feira

Nuvens em mim...

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando encontrar,
algo que enfim valha:
o resgate,
a restauração,
a manutenção,
a imersão
na nuvem enfim.

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando encobrir,
moral que insufla,
beijo asséptico,
face simétrica
de perfil assimétrico
que não quero refletido
no aço do espelho
manchado de janeiros.

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando aflorar
dos sonhos, o esqueleto,
da videira, o jirau
da poesia, o varal,
dos contos, as contas,
dos pontos, a linha
do norte, a trilha
do inicio, o fim
que cada partícula
de poeira
flutuante, flutuando
leva de mim.

k4akis

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domingo

Adoro Pau mole!


Um vídeo do poema "Adoro Pau Mole" de Maria Resende, filha do cineasta Sérgio Rezende e da produtora Mariza Leão. Seu primeiro livro lançado chama-se “Substantivo Feminino” , um livro de poemas, prefácio de Elisa Lucinda, com versos ousados, abordando o sexo de maneira clara e sem metáforas .

quinta-feira

Eros e Psique


Eros e Psique


Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça
este poema diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a este
último:

A citação, epígrafe ao meu poema "Eros e Psique", de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do
Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é fato - que me foi
permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de
1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a
origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]

Vinicianas

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço

De noite ardo.

A oeste a morte

Contra quem vivo

Do sul cativo

O este é meu norte.

Outros que contem

Passo por passo:

Eu morro ontem

Nasço a manhã ã

Ando onde há espaço:

- Meu tempo é quando.

(Vinicius de Morais)


domingo

Um dueto...

NOTURNO CORAÇÃO

Anoitece no meu coração de manhã cedo

quando vejo a cama vazia. Silêncio cortante

como a palavra final, o ultimato, o encerramento.

Nem sempre o fim leva ao final, fica um pouco

de muita coisa em cada mínimo fragmento

do pouco vivido. Amanhece no meu coração

quando a noite não é mais um silêncio pesado,

quando os sons e as luzes da rua invadem

o que meu coração deixou pra de manhã mais cedo.

Tanta noite, tanto dia... E a vida segue crepuscular

como o sol que se pôs em minhas mãos.

K4Akis & RCamargo

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quarta-feira

O gato


Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
Guarda essas garras devagar,
E nos teus belos olhos de ágata e aço
Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias
Tua cabeça e dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delícias
De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo
Como o teu, amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés a cabeça, um fino
Ar sutil, um perfume que envenena
Envolve-lhe a carne morena.

domingo

Epigrama

Amar, foder: uma união

De prazeres que não separo.

A volúpia e os prazeres são

O que a alma possui de mais raro.

Caralho, cona e corações

Juntam-se em doces efusões

Que os crentes censuram, os loucos.

Reflete nisso, oh minha amada:

Amar sem foder é bem pouco,

Foder sem amar não é nada.

sábado

Beijo Eterno

Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

quarta-feira

Inconfessável



O que me traduz,
aquilo que amo
ou o que me seduz?
Aquilo que odeio
ou tento em vão odiar?
E tentando odiar,
dispendo tanto tempo pensando
que por fim acabo amando,
mesmo não querendo,
ou tentando não querer.
Amando o que não quero,
querendo o que não possuo
possuindo o que não desejo,
desejando o que não tenho.
Vivendo em pleno desencontro,
me encontrando na incompletude,
caminhando entre sonhos soltos,
arrastando sentimentos presos
entre ataduras envoltos.
na completa quietude,
onde bradam meus segredos,
Inconfessáveis...


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segunda-feira

Amanhã, quem sabe...


O tempo parou ou serei eu,
quem estancou nessa altura.
Nem me adianto, nem retrocedo.
apenas me deixo ficar.
As horas passam,
o dia passa
e eu estanque.
Um mesmo pensar,
Um mesmo sentir,
Um mesmo estar
sem mesmo estar.
Um arrastar de dias
inúteis,
incontáveis
segundos...
Apenas segundos
sem enredo,
sem sentido,
sem vida,
sem rumo.
Aonde estarei indo?
Minha rota se perdeu,
minha bússola quebrou
meu norte ao sul,
meu sul a leste,
eu rumo a esmo,
largada à sorte,
ou falta dela.
Dias cheios
de alma vazia.
Vazia de si,
repleta de ti,
inefável sentir.
Quem sabe,
amanhã...

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sexta-feira

Prodígio


Prodígio! 

Como o Rei Lear não sentes a tormenta 
Que te desaba na fatal cabeça! 
(Que o céu d'estrelas todo resplandeça.) 
A tua alma, na Dor, mais nobre aumenta. 

A Desventura mais sanguinolenta 
Sobre os teus ombros impiedosa desça, 
Seja a treva mais funda e mais espessa, 
Todo o teu ser em músicas rebenta. 

Em músicas e em flores infinitas 
De aromas e de formas esquisitas 
E de um mistério singular, nevoento... 

Ah! só da Dor o alto farol supremo 
Consegue iluminar, de extremo a extremo, 
o estranho mar genial do Sentimento! 

terça-feira

A luz se foi...

§                     "A  luz se foi e agora nada mais resta a não ser esperar por 

um novo sol, um novo dia, nascido do mistério do tempo 

e do amor do homem pela luz".


Gore Vidal- "Juliano" (1964)

Sombras e Poesias



Vento forte que agora sopra,
impiedoso és com as folhas secas. 
Amareladas e frágeis se equilibram
num fio de vida que ainda resta,
aresta de um tempo que se fora,
onde o ar clorofilado reinava.

Brisa impetuosa que abala,
sua melodia  remete
aos cantos fúnebres de saudade.
Vejo as folhas secas pelo chão,
suas hastes estalam sob os pés,
restos da vida macerado, moido.
Folha que fora, hoje  ruído,
do seu triturar, é só o que és.

Aragem que deslisa por entre as copas,
a leveza das folhas me lembram
os sonhos alegres que tive.
Mesmo sendo noite, os sonhos luziam
então veio o sol, luz que as sombras dissipam , 
que apaga o brilho das fantasias.
Dos sonhos sonhados restaram sombras e poesias.
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segunda-feira


AMOR   DE  TARDE

É uma pena você não estar comigo
quando olho o rel
ógio e  são cinco
e termino a planilha e penso dez minutos
e estico as pernas como todas as tardes
e fa
ço assim com os ombros para relaxar as costas
e estalo os dedos e arranco mentiras.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o rel
ógio e  são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como ladra o telefone
ou um tipo que faz 
meros e lhes arranca verdades.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o rel
ógio e  são seis
Voc
ê podia chegar de repente
e dizer "e a
í ?" E ficaríamos
eu com a mancha vermelha dos seus l
ábios
voc
ê com o risco azul do meu carbono.

Ψolhos Pensantes: Você é contra ou a favor do Aborto



Linkei um vídeo que aborda de forma sutil a situação do aborto. 
Vale ver e refletir... Pensar nunca é demais!
Abraços.

quinta-feira

Minhas palavras, outras vozes


Busco ávida por poemas não lidos,

neles, resposta minhas

em dizeres alheios.

A palavra mal absorvida,

A emoção mal resolvida.

Acordo Clarice,

durmo Cecília,

eu,revisited em Pessoa,

em sua, minha angústia.

Tento buscar em outras

bocas, outras vozes,

velhas palavras,

que se esconderam,

quando deviam se expor.

Emoção que se desnudaram...

quando precisavam se recolher.

Vozes que explodiram...

quando o melhor era calar.

Leio Neruda, sonetos

que exaltam amor.

De Quintana,busco a sabedoria

leve e livre, de Drummond

a doçura,que me alcança,

me amansa, como um bolero de Ravel,

e preenche o oco do carinho seu.

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segunda-feira

Ponto de Ebulição


Ponto de ebulição!
A temperatura sobe,
o líquido ferve,
derrama, espalha
e não se junta mais.
Líquido, palavra perdida
por se passar do ponto
ou quem sabe chegar,
no ponto certo,
ponto de ebulição.
As emoções que eclodem
dentro do peito aprisionadas,
acabam por explodir
em turbilhão de palavras
que enchem o ar escoam no chão.
Pouco se guarda por tanto tempo.
Muito se reprime por algum tempo.
Tudo se regurgita no tempo certo.
Nem longe, sem sombra de lembrança,
nem perto demais, pura destemperança.
No tempo certeiro, desemboca aguaceiro
de pura emoção expelida num turbilhão.
Após tanto líquido derramado, palavras, 
mágoas despejadas pouco resta, resíduos, 
sobras da emoção, de tudo... Somente manchas 
do líquido, espalhado pelo chão. 
Ponto de Ebulição.



fulmina

Cicatriz

Quem disse que mudei? Não importa que a tenham demolido. A gente continua morando na velha casa em que nasceu.

   Mário Quintana [pensador] www.pensador.info

 
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