aβsynto Vocέ: Poemas

 

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.Há também quem garanta que nem todas, só as de verão.Isto não tem muita importância. O que interessa mesmo são os sonhos..."

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segunda-feira

Ponto de Ebulição


Ponto de ebulição!
A temperatura sobe,
o líquido ferve,
derrama, espalha
e não se junta mais.
Líquido, palavra perdida
por se passar do ponto
ou quem sabe chegar,
no ponto certo,
ponto de ebulição.
As emoções que eclodem
dentro do peito aprisionadas,
acabam por explodir
em turbilhão de palavras
que enchem o ar escoam no chão.
Pouco se guarda por tanto tempo.
Muito se reprime por algum tempo.
Tudo se regurgita no tempo certo.
Nem longe, sem sombra de lembrança,
nem perto demais, pura destemperança.
No tempo certeiro, desemboca aguaceiro
de pura emoção expelida num turbilhão.
Após tanto líquido derramado, palavras, 
mágoas despejadas pouco resta, resíduos, 
sobras da emoção, de tudo... Somente manchas 
do líquido, espalhado pelo chão. 
Ponto de Ebulição.



fulmina

O parto


Do mesmo jeito que chegou
partiu...
Mudo.
Sem olá,
sem adeus.
Entremeios...
Vários
diálogos
lacônicos
perdidos
n
o

e
s
p
a
ç
o

d
e

u
m

b
i
t

deletado.
Nem sei se existiu,
se tinha forma o ser,
ou seria apenas miragem.
Busco na lixeira,
vestigio já não há
de sua breve passagem,
de sua existência fugaz.
Nem sombra, nem sobras
de ti,
do nada,
de tudo.
Do mesmo jeito que chegou
partiu...
Mudo.

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aβsynto Vocέ by K4AKIS'Production



Loucura de Mulher


Perdoa essa desvairada
que te faz espumar de raiva
e consegue te tirar do eixo.
Tratando-se de fêmea é normal
tamanha excentricidade,
afinal com tantos hormônios,
seria ingenuidade esperar normalidade.
Hormônios são nossos demônios.
Pobre dos machos que buscam
nos braços de uma mulher
descanso e tranquilidade.
Fêmeas lhes dão o regaço,
sexo, filhos e alguma satisfação.
Agora, por caridade,
não lamentes a insanidade
que a costuma acompanhar.
Aproveita a oportunidade,
usufrui o que vida te dá:
uma mulher a te enlouquecer,
uma mãe para teus filhos parir,
uma insana que te faz irar,
uma fêmea que te faz gozar.



terça-feira

Vulto


Tenho endereço mas não tenho casa,
falta-me pouso...
Vivo na casa mas não a habito,
falta-me ninho...
Deito na cama mas não durmo,
falta-me sono...
Como do prato mas não me alimento,
falta-me gosto...
Bebo da água mas persiste a sede,
falta-me a fonte...
Escrevo um poema mas não o leio,
falta-me ouvinte...
Cometo injúrias e não confesso,
falta-me cúmplice...
Compro a bebida mas não bebo,
falta-me parceiro...
Faço o sexo mas não me sacio,
falta-me amor...
Tenho... mas me sinto só,
falta-me... Só me falta.
Encontro-me entre tantos
mas sou só desencontro.
Penso mas não existo,
falta-me ser...
Estou onde não sou,
onde sou, não estou.
Sou só vulto.

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quinta-feira

Pouco importa

Hoje não mudei a estação,
fundo musical dos meus devaneios,
já não importa.
Não li o horóscopo,
não joguei I Ching.
Isso não me importa.
Não abri e.mails,
não relí os antigos,
pouco me importa.
Se há rastros de sua passagem,
se na caixa há uma mensagem,
isso não me importa.
Se pensei num e.mail,
se desisti por saber a resposta,
pouco importa.
Se os diálogos são lacônicos,
se os debates são monólogos,
já não me importa.
Hoje tudo isso não me importa.
Hoje nada disso me importa.
Do cigarro que acendeste
restaram cinzas e fumaça.
Nem cancêr, nem prazer,
só resíduo.


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quarta-feira

Caía a noite menina...


 A noite caía menina,
no ar o cheiro do mar.
Horizonte ameno,
pensamento sereno...
No peito, suave cadência,
sem dor, sem sobressalto.
Caminho ao encontro dos meus.
Tudo está onde deveria,
sem dor, ausência, agonia.
Caía a noite menina,
 envolveu-me seu manto de paz.
num breve momento de existir fui feliz.



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domingo

Limpeza de corpo e alma


"(...) E é hoje o dia da Faxina Mental.

Joga fora tudo que te prende ao passado,
ao mundinho de coisas tristes,
fotos,
peças de roupa,
papel de bala,
ingressos de cinema,
bilhetes de viagens,
e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados.
Jogue tudo fora.
Mas, principalmente,
esvazie seu coração.
Fique pronto para a vida,
para um novo amor.

Lembre-se somos apaixonáveis,
somos sempre capazes de amar
muitas e muitas vezes.
Afinal de contas,
nós somos o "Amor"."
Paulo Roberto Gaefke

P.S. Nessa era digital vale lembrar que na faxina completa entra os vários e.mails arquivados.Vale à pena limpar todos as mensagens salvas. É necessário...Saudável. Beijos e Feliz Recomeço!  


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quarta-feira

Menino de cristal

Meu menino de cristal...

Menino de cristal em homem disfarçado
deita em meu colo e descansa sereno.
Acordada, sentinela, velo o sono teu.
Adormece em paz... A manhã promete sol no céu.


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segunda-feira

Recolhendo as Pérolas












Deletar


Valores, pudores e temores...Todos exorcizados.
Coração e mente despidos... Alforriados.
Deixei-lhe o colo, o corpo lhe reservei,
porém, cansei.
Hoje, recolho minhas pérolas.
Apaguei seu nome de minha agenda,
do meu caminho seu rastro apaguei.
Tuas poucas lembranças... Deletei.
Meus carinhos e mimos, outro receberá
Meu obsceno segredo de outro será.
Meu calor, meu sabor, outro há de sentir,
Meu corpo em outro se deleitará.
E ao ouvir meus sussurros,
perceber meus gemidos,
e ao receber meu êxtase, num gozo de arrebatar.
Viver toda alegria e prazer que a paixão nos possa dar.
Tudo que seria seu, hei de viver com outro alguém.
                 E nesse momento, quando você... Você quem?

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quinta-feira

Lamento de Dulcinea

Meu cavaleiro da Triste Figura, 
há dias em que a vontade de estar com você se faz apertada... 
Tenho vivido momentos especiais, tenho estado feliz.
mas jaz tão distante meu cavaleiro, como repartir o mel? 
Nem sei quantos rascunhos, recados ensaiados, 
querendo compartilhar uma nova, um poema , todos acabam engavetados. 
Em muitas de minhas conquistas há um toque seu, 
Ficaram resquícios seus nos poemas que julgo meu. 
A vida traçou outras rotas, caminhamos por outras vias, 
escapou-nos a sintonia. 
Eu busco luz e meu cavaleiro me parece tão sombrio... 
Podes me alcunhar de paranóica 
(vilipendiada, ludibriada???), 
tens dos bravos cavaleiros a vivência ,eu, mesmo sem tua sapiência 
ouso analisá-lo à espreita, sinto em ti uma oscilação tão grande... 
Ora repousas céu, ora submerge num inferno qual Dante, 
de um estado de alegria ao mergulho profundo na tristeza,
uma tristeza tão sua.... tão singular. 
Ensimesmado... Será a tristeza a te consumir ou você dela a se alimentar? 
Solitária com seu Quintana, me deparei com o poema: 
"Não tentes consolar o desgraçado, 
que chora amargamente a sorte má. 
Se o tirares por fim do seu estado, 
que outra consolação lhe restará?" 8
Então me dei conta que a angústia que te acompanha 
talvez seja porque te lançaste ao resgate dos degredados, 
barganhando em vida com a morte, 
surrupiando dela tantos quanto pode. 
E a morte, caprichosa, por se sentir lesada, 
te pune com um vazio, condenado a um buscar angustiado, 
Ah minha triste figura... Quisera eu amenizá-lo. 
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sexta-feira

Lisbon Revisited (l923)


NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
*A primeira vez que li este poema do Pessoa
senti uma dose tão grande de angústia que me
incomodou.Rejeitei-o. Hoje é quase um auto-retrato.

quinta-feira

São demais os perigos desta vida


São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.
Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.

quarta-feira

À tua espera

A paixão segue contemplativa, mas a falta é real.
A falta de teus suspiros, do teu cheiro... do abraço.
A ausência tem forma, tem nome, tem vida.
Vida que vibra com teus gemidos sôfregos
quando a língua despe o pudor do seu corpo.
Hoje silêncio predomina no quarto, na cama...
Não penetras meus ouvidos com suas doces obcenidades ...
Não me irrigas de vida, de ti, de gozo...É só vácuo.
Mas quando chegares...
Num abandono em meus braços, seu corpo a estremecer
com carinhos e ousadias inconfessáveis,
partida será passado.
Então, extenuado, recostado em meu regaço,
indefeso como uma criança, abrigado, adormecerá feliz meu homem!

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terça-feira

Atelièr de amadores

Com mãos firmes de artesão
manuseio o tear da existência.
Num nai e vem constante,
vejo crescer um pouco de mim.
A cada ponto, a cada carreira
imprimo minha história.
Severo e crítico é o olhar ,
não há segunda chance nesse ateliêr.
Observo o evoluir da peça,
esboço da obra que ainda há de ser.
A cada passo tropego, me desconstruo.
Desato meus nós, desfaço meus passos.
À cata do elo que se perdeu,
do fio de mim que se soltou,
repenso, repasso, refaço a trama.
Eterno fazer e desfazer.
Busca da obra perfeita.
Tanto tempo gasto em reparar,
num refazer infinito da peça única,
pouco sobra para vislumbrar-lhe a beleza.
Quanta tolice!
Acaso existe obra perfeita em ateliêr de amadores?

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Imersão no cinza

Olho pela janela,
a manhã se veste de cinza.
A paisagem passa veloz,
a vegetação desponta em verde,
roupas coloridas tremulam no varal.
Tudo apresenta-se em cor,
cinza só meu coração e essa manhã.
Se ao menos houvesse o mormaço,
o calor que delata o Sol,
se parcos raios de luz escapassem,
surgindo das densas nuvens...
Não...
Hoje o dia é cinza,
a vida se pôs cinza.
Roubaste minha aquarela.
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segunda-feira

Náufrago da Paixão

“Porque sou do tamanho daquilo que vejo, 
e não do tamanho da minha altura.”
(Carlos Drummond de Andrade) 
Só,
ruminando em secreto minhas mazelas,
busco alforria de ti.
Sinto-me tola, atolada.
Armadilhas, arapucas,
Eu ave presa sob alçapão.
Coração agitado no peito,
refém da própria emoção...
Busco porto seguro,
busco um corpo seguro.
Preciso aportar e sobreviver.
Minhas coordenadas se perderam,
se fundiram com o delírio de te querer.
Vivo naufrago de meu próprio sentir.
Paixão que tirou o chão,
Desejar que dominou a razão.
Cansei de lutar, de querer...De querer lutar!
De amarras solta deixo-me conduzir.
Meu destino: ancorar ou naufragar.[ME]

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Canto da Solidão

Neste alaúde, que a saudade afina,
Apraz-me às vêzes descantar lembranças
De um tempo mais ditoso;

De um tempo em que entre sonhos de ventura
Minha alma repousava adormecida
Nos braços da esperança.

Eu amo essas lembranças, como o cisne
Ama seu lago azul, ou como a pomba
Do bosque as sombras ama.

Eu amo essas lembranças; deixam n'alma
Um quê de vago e triste, que mitiga
Da vida os amargores.

Assim de um belo dia, que esvaiu-se,
Longo tempo nas margens do ocidente
Repousa a luz saudosa.

Eu amo essas lembranças; são grinaldas
Que o prazer desfolhou, murchas relíquias
De esplêndido festim;

Tristes flores sem viço! - mas um resto
Inda conservam do suave aroma
Que outrora enfeitiçou-nos.

Quando o presente corre árido e triste,
E no céu do porvir pairam sinistras
As nuvens da incerteza,

Só no passado doce abrigo achamos
E nos apraz fitar saudosos olhos
Na senda decorrida;

Assim de novo um pouco se respira
Uma aura das venturas já fruídas,
Assim revive ainda

O coração que angústias já murcharam,
Bem como a flor ceifada em vasos d'água
Revive alguns instantes.

Bernardo Guimarães

sexta-feira

Quem somos

"Somos idas e vindas,
Somos pausa e pouso.
Às vezes, pássaros desgarrados,
alojados em ninhos alheios.
Somos seres inquietos,
em busca do que nos falta.
Saudosos de um recanto que não tivemos,
do acalanto que ainda não ouvimos,
do amor que ainda não vivemos.
Somos lamentos tristonhos,
um ecoar permanente de dúvidas.
Somos pó."

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Cicatriz

Quem disse que mudei? Não importa que a tenham demolido. A gente continua morando na velha casa em que nasceu.

   Mário Quintana [pensador] www.pensador.info

 
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