O amor antigo vive de si mesmo,
Não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
Mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
Feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
E por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
Aquilo que foi grande e deslumbrante,
O antigo amor, porém, nunca fenece
E a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
E resplandece no seu canto obscuro,
Tanto mais velho quanto mais amor.
[Carlos Drummond de Andrade]
Por que meus olhos me traem?
Por que meu coração ainda se aquece somente por vê-lo?
Seu olhar atrai o meu e
Fujo da masmorra a que me condenaste!
Finges deixar a porta aberta...
Sabes que as correntes que me prende a ti não se rompem facilmente. Foi tecida dia após dia...
Com gestos sutis, olhares de soslaio, desejos velados, como quebrar os grilhões?!
[Eu]
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