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"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.Há também quem garanta que nem todas, só as de verão.Isto não tem muita importância. O que interessa mesmo são os sonhos..."

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sexta-feira

Só deixo meu coração na mão de quem pode

Só deixo meu coração
Na mão de quem pode
Fazer da minha alma
Suporte
Pr’uma vida
Insinuante
Insinuante
Anti-tudo que não
Possa ser
Bossa-nova hardcore
Bossa-nova nota dez
Quero dizer
Eu tô pra tudo nesse mundo
Então só vou
Deixar meu coração
A alma do meu corpo
Na mão de quem
Pode
Na mão de quem
Pode
E absorve
Todo céu
Qualquer inferno
Inspiração
De mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar
Na dança absoluta
Da matança
Do que é tédio
Conformismo
Aceitação
Do fico aqui
Vou te levando
Nessa dança
Submundo pode tudo
Do amor
Porque não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é acúmulo de dúvida, incerteza
De si mesmo
Projetado
Assim jogado
Como lama anti-erótica
Na cara do desejo mais
Intenso de ficar com a pessoa
E eu não tô à toa
Eu sou muito boa
Eu sou muito boa pra vida
Eu sou a vida
Oferecida
Como dança e não
Quero te dar gelo
Jealous guy
Vê se aprende
Se desprende
Vem pra mim
Que sou esfinge do amor
Te sussurrando
Decifra-me

Só deixo minha alma
Só deixo o coração
Só deixo minha alma
Na mão de quem pode

Eu vou dizendo
Que só deixo minha alma
Só deixo meu coracão
Na mão de quem pode
Fazer dele erótico suporte
Pra tudo que é ótimo fator vital.

[
Katia B / Marcos Cunha / Plínio Profeta / Fausto Fawcett]

domingo

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

quarta-feira

Nuvens em mim...

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando encontrar,
algo que enfim valha:
o resgate,
a restauração,
a manutenção,
a imersão
na nuvem enfim.

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando encobrir,
moral que insufla,
beijo asséptico,
face simétrica
de perfil assimétrico
que não quero refletido
no aço do espelho
manchado de janeiros.

Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando aflorar
dos sonhos, o esqueleto,
da videira, o jirau
da poesia, o varal,
dos contos, as contas,
dos pontos, a linha
do norte, a trilha
do inicio, o fim
que cada partícula
de poeira
flutuante, flutuando
leva de mim.

k4akis

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domingo

Adoro Pau mole!


Um vídeo do poema "Adoro Pau Mole" de Maria Resende, filha do cineasta Sérgio Rezende e da produtora Mariza Leão. Seu primeiro livro lançado chama-se “Substantivo Feminino” , um livro de poemas, prefácio de Elisa Lucinda, com versos ousados, abordando o sexo de maneira clara e sem metáforas .

quinta-feira

Eros e Psique


Eros e Psique


Fernando Pessoa
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça
este poema diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a este
último:

A citação, epígrafe ao meu poema "Eros e Psique", de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do
Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é fato - que me foi
permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de
1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a
origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]

Vinicianas

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço

De noite ardo.

A oeste a morte

Contra quem vivo

Do sul cativo

O este é meu norte.

Outros que contem

Passo por passo:

Eu morro ontem

Nasço a manhã ã

Ando onde há espaço:

- Meu tempo é quando.

(Vinicius de Morais)


domingo

Um dueto...

NOTURNO CORAÇÃO

Anoitece no meu coração de manhã cedo

quando vejo a cama vazia. Silêncio cortante

como a palavra final, o ultimato, o encerramento.

Nem sempre o fim leva ao final, fica um pouco

de muita coisa em cada mínimo fragmento

do pouco vivido. Amanhece no meu coração

quando a noite não é mais um silêncio pesado,

quando os sons e as luzes da rua invadem

o que meu coração deixou pra de manhã mais cedo.

Tanta noite, tanto dia... E a vida segue crepuscular

como o sol que se pôs em minhas mãos.

K4Akis & RCamargo

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quarta-feira

O gato


Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
Guarda essas garras devagar,
E nos teus belos olhos de ágata e aço
Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias
Tua cabeça e dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delícias
De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo
Como o teu, amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés a cabeça, um fino
Ar sutil, um perfume que envenena
Envolve-lhe a carne morena.

domingo

Epigrama

Amar, foder: uma união

De prazeres que não separo.

A volúpia e os prazeres são

O que a alma possui de mais raro.

Caralho, cona e corações

Juntam-se em doces efusões

Que os crentes censuram, os loucos.

Reflete nisso, oh minha amada:

Amar sem foder é bem pouco,

Foder sem amar não é nada.

sábado

Beijo Eterno

Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

Cicatriz

Quem disse que mudei? Não importa que a tenham demolido. A gente continua morando na velha casa em que nasceu.

   Mário Quintana [pensador] www.pensador.info

 
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