sexta-feira
Só deixo meu coração na mão de quem pode
Na mão de quem pode
Fazer da minha alma
Suporte
Pr’uma vida
Insinuante
Insinuante
Anti-tudo que não
Possa ser
Bossa-nova hardcore
Bossa-nova nota dez
Quero dizer
Eu tô pra tudo nesse mundo
Então só vou
Deixar meu coração
A alma do meu corpo
Na mão de quem
Pode
Na mão de quem
Pode
E absorve
Todo céu
Qualquer inferno
Inspiração
De mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar
Na dança absoluta
Da matança
Do que é tédio
Conformismo
Aceitação
Do fico aqui
Vou te levando
Nessa dança
Submundo pode tudo
Do amor
Porque não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é acúmulo de dúvida, incerteza
De si mesmo
Projetado
Assim jogado
Como lama anti-erótica
Na cara do desejo mais
Intenso de ficar com a pessoa
E eu não tô à toa
Eu sou muito boa
Eu sou muito boa pra vida
Eu sou a vida
Oferecida
Como dança e não
Quero te dar gelo
Jealous guy
Vê se aprende
Se desprende
Vem pra mim
Que sou esfinge do amor
Te sussurrando
Decifra-me
Só deixo minha alma
Só deixo o coração
Só deixo minha alma
Na mão de quem pode
Eu vou dizendo
Que só deixo minha alma
Só deixo meu coracão
Na mão de quem pode
Fazer dele erótico suporte
Pra tudo que é ótimo fator vital.
[Katia B / Marcos Cunha / Plínio Profeta / Fausto Fawcett]
domingo
Não me Peçam Razões...
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
quarta-feira
Nuvens em mim...
vasculho tentando encontrar,
algo que enfim valha:
o resgate,
a restauração,
a manutenção,
a imersão
na nuvem enfim.
Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando encobrir,
moral que insufla,
beijo asséptico,
face simétrica
de perfil assimétrico
que não quero refletido
no aço do espelho
manchado de janeiros.
Debaixo da nuvem de poeira
vasculho tentando aflorar
dos sonhos, o esqueleto,
da videira, o jirau
da poesia, o varal,
dos contos, as contas,
dos pontos, a linha
do norte, a trilha
do inicio, o fim
que cada partícula
de poeira
flutuante, flutuando
leva de mim.
k4akis
domingo
Adoro Pau mole!
quinta-feira
Eros e Psique
Eros e Psique
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça
este poema diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a este
último:
A citação, epígrafe ao meu poema "Eros e Psique", de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do
Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é fato - que me foi
permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de
1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a
origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]
Vinicianas
domingo
Um dueto...
Anoitece no meu coração de manhã cedo
quando vejo a cama vazia. Silêncio cortante
como a palavra final, o ultimato, o encerramento.
Nem sempre o fim leva ao final, fica um pouco
de muita coisa em cada mínimo fragmento
do pouco vivido. Amanhece no meu coração
quando a noite não é mais um silêncio pesado,
quando os sons e as luzes da rua invadem
o que meu coração deixou pra de manhã mais cedo.
Tanta noite, tanto dia... E a vida segue crepuscular
como o sol que se pôs em minhas mãos.
quarta-feira
O gato
domingo
Epigrama
Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os prazeres são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisso, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.
sábado
Beijo Eterno
Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!